segunda-feira, 21 de setembro de 2009
A asfixia democrática de um fariseu de pacotilha
É nos pequenos exemplos que se vêm os grandes desígnios, mesmo aqueles que de bom nada têm para o ser humano e para os cidadãos das sociedades. Basta recordar atentamente a história dos grandes ditadores, para perceber isso. Mas nem sempre os exemplos de falta de carácter e fascismo encapotado se vêem nos históricos opressores da humanidade. Em Portugal há especialistas de baixíssimo quilate, ditadores de pacotilha ou de café de aldeia, que quando chegam ao poder tiram uma espécie de curso intensivo de caciquismo local e assim se julgam donos deste mundo e do outro.
A história que aqui vos deixo é verdadeira, escandalosa, e aconteceu na pequena cidade da Régua nos últimos dias. Leiam atentamente e digam-me se este é ou não é o mais cabal exemplo de asfixia democrática, um termo tanto em voga na linguagem laranja deste país e que agora lhes saiu das entranhas como um vómito de fariseu local.
Há duas ou três semanas a rádio Douro FM resolveu organizar um debate em directo com os quatro candidatos à presidência da câmara municipal de Peso da Régua, e para isso convidou, através do director em exercício, todos os partidos concorrentes, indicando as regras do debate e o moderador, um jornalista sem filiação partidária nem compromisso político, isento e com a carteira profissional em dia, ainda por cima o cronista político semanal da referida rádio. Todos os partidos se disponibilizaram, sem problemas, à excepção do PSD, que deixou algumas reticências no ar e ficou de dar uma resposta.
Algumas horas depois, o proprietário da rádio era abordado directamente pelo candidato do PSD da Régua, Engº Nuno Gonçalves, dizendo que não concordava com o moderador escolhido, e, note-se, que este tinha de ser mudado, como se fosse ele mesmo o proprietário da rádio! Ao que se sabe, o proprietário da rádio ainda tentou dissuadi-lo desta posição por várias vezes, mas não conseguiu, e, vá-se lá saber porque razões ou interesses, o proprietário da rádio, sem consultar o seu director, cedeu perante o autarca, no sentido de anular o debate, sendo que o director em exercício se recusava a mudar o moderador que tanto assustava Nuno Gonçalves. Aqui, diga-se em abono da verdade, o proprietário da rádio demonstrou uma inqualificável falta de carácter, de personalidade e a mais fácil covardia.
Entretanto, o fariseu local, que tinha assinado em tempos um protocolo com a referida rádio, no qual se comprometia a não interferir de qualquer modo nos conteúdos editoriais da rádio, exerceu assim a mais escandalosa e salazarenta censura política pública, dando forma e conteúdo à tal asfixia política de que fala a sua líder – Manuela Ferreira Leite – e demonstrando que não é só a nível nacional que se perseguem jornalistas livres e isentos, e ainda demonstrando que é ao nível das autarquias que, mais de trinta anos depois do 25 de Abril de 74, persiste o bafiento caciquismo e autoritarismo anti-democrático que é preciso denunciar já.
Ao engº Nuno Gonçalves aplica-se o célebre ditado que diz “quem faz um cesto, faz um cento” e ao PSD aplica-se um outro que diz: “Pela boca morre o peixe”. Oxalá o povo esteja atento e perceba que por detrás de cada sorriso eleitoral desta gente está um fariseu militante.
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