sábado, 21 de novembro de 2015

A sombra dos nossos pesadelos (Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 20/11/2015)



Cavaco Silva é um homem extremamente inseguro, atingido por uma soberba que o levava a alterações de carácter quando era professor e se algum aluno o contestava.

As delongas que o dr. Cavaco tem feito à indigitação do dr. António Costa para primeiro-ministro é um dos episódios mais repulsivos da Segunda República. O dr. Cavaco é homem de verdetes e de pequenas vinganças, já se sabia; mas este ressabiamento ultrapassa todas as paciências. Os ódios velhos não cansam, mas as coisas, com ele, têm atingido os mais deploráveis limites. Não permitiu que a pensão de sangue fosse atribuída à viúva de Salgueiro Maia, mas acedeu a que antigos agentes da PIDE fossem distinguidos com rendas, “por serviços distintos prestados à pátria”. Escusou-se, com evasivas canhestras, a presidir a uma homenagem a Melo Antunes, e tem colocado penduricalhos a uma legião de medíocres. Não condecorou José Sócrates, como é hábito a primeiros-ministros, em final de funções, notoriamente porque o detestava e detesta, além de o mimosear com dois discursos abjectos. Mário Soares, que o tratava por “O Gajo”, é outros dos seus inimigos. Não pode com Pedro Santana Lopes porque este é divertido, ama a vida e é inteligente. Apadrinhou Pedro Passos Coelho devido à reverência mesureira com que este o distingue. Aliás, apressou-se a indigitá-lo primeiro-ministro, logo após as eleições de 4 de Outubro, num atropelo às regras mais elementares da democracia. Nem precisou, como o fez agora, com inaudito despudor, de ouvir a opinião de “notáveis”. Sobre ser uma pessoa inculta e medíocre. O dr. Cavaco é o pior Presidente da República desde o 25 de Abril.
 Os níveis de popularidade do senhor descem de forma preocupante porque atingem, inevitavelmente, a própria instituição. Não ouve ninguém, não atenta nos conselhos que lhe dão, timidamente e com muita cautela porque ele encoleriza-se com frequência e não tem amigos, apenas breves instantes de reverência assustada. É um homem extremamente inseguro, atingido por uma soberba que o levava a alterações de carácter quando era professor e se algum aluno o contestava. Por duas vezes, pelo menos que víssemos, em duas cerimónias públicas, teve delíquios sem que, até hoje, essas súbitas quebras nos fossem esclarecidas.
 A demora em nomear António Costa faz parte da sua estrutura política e moral. Mas a atitude, por absurdamente deseducada, atinge toda a nação. Sabemos que o dr. Cavaco nunca foi o “Presidente de todos os portugueses”, e que a sua presença nos cargos que desempenhou caracterizaram-se por um total e absoluto desdém pelos outros. O que está a provocar, com este adiamento, é uma cisão desnecessária entre todos nós. A ferida que rasgou nos portugueses dificilmente sarará. Há anos, com uma impudícia que rondou o insulto, disse, publicamente, esta frase maldita: “Temos de ajudar o dr. Mário Soares a sair com dignidade da Presidência.”
 Todos sabemos que Mário Soares não costuma levar insolências para casa, e que, quando o assolam, não é flor que se cheire. Pode ser acusado de todos os defeitos, menos o de delito contra a liberdade. Talvez o mesmo não se possa dizer do dr. Cavaco, com as tropelias e os atropelos à democracia que tem praticado, e, até com o vilipêndio comprovado pela República e pelo 5 de Outubro.
 Com um suspiro de alívio aguardamos o dia próximo em que este senhor irá para casa e deixará de ser a sombra dos nossos pesadelos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

EU QUERIA ESTAR EM PARIS, AGORA!


No século XVIII o grande pensador e perseguido Voltaire escreveu:” Paris, cidade da luz, será em cada século a cidade do sangue”. E foi. E foi quase sempre numa sexta-feira 13! Coincidências! 
A verdade é que hoje eu queria estar em Paris, para tocar cada pedaço de carne espalhado pela incompreensível maldade do Homem. Talvez a falha do criador? Talvez uma deformação das almas com trissomia 21? 
Na verdade, eu queria estar hoje em Paris para tocar os corpos espalhados pelas ruas da morte e fazê-los engolir pelas gargantas do dogmatismo homicida. Beijar os chãos onde escorre o sangue dos que partiram em nome do NADA que é o fanatismo dito religioso que se confunde com o poder acéfalo.
Na verdade, eu hoje queria estar em Paris para respirar o silêncio nocturno que percorre as ruas da cidade-luz, apagada pela morte! 
Na verdade, eu hoje queria estar em Paris para respirar solidariamente a dor dos que sobreviveram e subir ao ponto mais alto e perguntar: PORQUÊ?
No século XVIII o grande pensador e perseguido Voltaire escreveu:” Paris, cidade da luz, será em cada século a cidade do sangue”. E foi. E foi quase sempre numa sexta-feira 13! Coincidências! 
A verdade é que hoje eu queria estar em Paris, para tocar cada pedaço de carne espalhado pela incompreensível maldade do Homem. Talvez a falha do criador? Talvez uma deformação das almas com trissomia 21?
Na verdade, eu queria estar hoje em Paris para tocar os corpos espalhados pelas ruas da morte e fazê-los engolir pelas gargantas do dogmatismo homicida. Beijar os chãos onde escorre o sangue dos que partiram em nome do NADA que é o fanatismo dito religioso que se confunde com o poder acéfalo.
Na verdade, eu hoje queria estar em Paris para respirar o silêncio nocturno que percorre as ruas da cidade-luz, apagada pela morte!
Na verdade, eu hoje queria estar em Paris para respirar solidariamente a dor dos que sobreviveram e subir ao ponto mais alto e perguntar: PORQUÊ?

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Língua Portuguesa faz hoje 800 anos

CAVACO SILVA E SANTANA LOPES ASSINARAM O AO90 E DEVERIAM TAPAR HOJE A CARA DE VERGONHA

Aí está um dia de que todos devemos orgulhar-nos, ideal para lutar contra um acordo ortográfico abjecto, errado e ofensivo da língua portuguesa e da identidade nacional.  Esta "desgraça" começou em Novembro de 1989, no Brasil numa cimeira patrocinada por José Sarney, onde o secretário de estado da cultura de então, Pedro Santana Lopes (aquele que falava despudoradamente dos concertos de violino de Chopin!), assinava o que viria a ser o  AO1990, por ordem expressa do 1º ministro de então Cavaco Silva (o mesmo que hoje trata os portugueses por "cidadões"!). 
E é esta tralha de gentinha que hoje se encontra sózinha neste (des)acordo  ortográfico que fere de morte a língua portuguesa e que, ao contrário do que andam a gritar por aí, apenas põe "Portugal Atrás".

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Justiça portuguesa sem máscara - Salazar não faria melhor!





A dúvida que nos assaltava há muito tempo, teve ontem a resposta final. Alguns dos magistrados portugueses e mandarinetes do Ministério Público e seus quejandos enganaram-se na profissão! Cirurgia político-jurídica deveria ter sido a sua formação académica de base, e, aí sim, teriam sido alunos brilhantes.
A política portuguesa dos nossos dias teria sido extremamente útil a Maquiavel, e, porventura, tudo teria sido diferente no reino Florentino e Lourenço de Médici não seria hoje considerado um “menino de coro” ao lado dos políticos esmagadoramente medíocres do século XXI! O que não teria feito Maquiavel com as redes sociais!
Ontem foi “ libertado” sem pulseira electrónica o ex-Primeiro- Ministro José Sócrates, depois de quase um ano preso em Évora sem acusação formada nem provas que permitissem a mesma. No entretanto, todos os actos empreendidos pelas instâncias judiciais, desde o Ministério Público ao Juiz de instrução, foram “coincidentemente” cirúrgicas, ou seja, em “prime-time” com actos importantes do PS de António Costa. Coincidência? Não é que eu acredite em bruxas, “pero que las hay, hay!”. Desde as fugas de informação da hora exacta da chegada de Sócrates ao aeroporto onde foi detido em Novembro de 2014, até aos sucessivos indeferimentos aos pedidos de recurso judicial que sempre coincidiram com iniciativas do Partido Socialista e de António Costa, desde o congresso que elegeu Costa como secretário-geral até à tarde de ontem, onde Costa teve à mesma hora da decisão de” libertar”  Sócrates, uma chegada apoteótica ao Porto, onde o esperavam milhares de pessoas com a esperança de que este será o líder capaz de devolver a esperança aos portugueses e devolver a dignidade roubada aos cidadãos por uma direita neoliberal de “meninos” impreparados e obedientes ao novo Hitler de saias, que vai ganhando uns milhares de milhões de euros à custa dos pequenotes da Europa.
Se dúvidas havia, estão desfeitas. Impossibilitados de utilizar o passado impoluto de Costa, os “meninos” de Passos Coelho e do “irreversível” Paulo Portas, uma espécie de filhos bastardos do ex-colaborador da PIDE, Aníbal Cavaco Silva, utilizaram a prisão preventiva de um ex-primeiro-ministro socialista sem acusação formada, para passearem a nu a estultícia lamacenta em que pastam, arrastando com eles a maioria dos portugueses. Com um argumento destes teria sido bem diferente a história dos célebres “irmãos Metralha” – Walt Disney teria esfregado as mãos de contente com tanta matéria para criação.
Eles são governantes, comentadores políticos, alguns órgãos de comunicação social e até jornalistas alinhados! A tristeza de um país que rasgou oceanos e mergulhou no mais sujo underground da política!
Como se tudo não chegasse para demonstrar as “boas intenções” do desespero próprio dos afogados (os rapazes não sabem nadar, iôoo!) e, como sempre, com um pé dentro e outro fora, o CDS-PP deixou no dia de ontem as despesas de tentativa de salvação para o rapaz Nuno Melo, que acusa Costa de promover a desertificação ao defender o acolhimento de refugiados em Portugal! O rapaz é bom publicitário, mas com um pequeno grande defeito: É burro.
Por seu lado, Assunção Cristas (Cristas de galinha poedeira ou de garnisé?) não sabe ouvir e apenas se preocupa com os cidadãos e seres humanos que servem a sua mentecapta noção de sociedade – os senhores “doutores”, engenheiros e arquitectos – esquecendo as pessoas sem formação que podem ser igualmente úteis às sociedades, sem títulos e, porventura, com mais dignidade e eficácia! Enfim… coisas da direita bacoca que põe à frente de ministérios algumas mulherzinhas cujo curriculum maior é a habilidade para parir. Pobres ninhadas…

Os portugueses agora ficam muito mais esclarecidos. Temos de agradecer a este “Estado” o alerta para o que temos que evitar e rejeitar, com o nível político e educacional que esta escumalha não tem. Como diz Tiago Bettencourt: ACORDA PORTUGAL. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

MAIS UMA CAVACADA PARA DIMINIUR PORTUGAL

O Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva ratificou acordo que exclui o português do Tribunal de Patentes, ou seja, a língua portuguesa, pela assinatura de Cavaco, passou a “lixo” na União Europeia, nomeadamente ao Tribunal Europeu de Patentes! Foi apenas isto que Cavaco Silva assinou e que não permite o acesso dos portugueses à justiça europeia na sua própria língua. O sr. Aníbal boliqueimou a nossa língua! Aliás, já o tinha feito em Novembro de 1989, no  Brasil, ao dar ordens ao seu secretário de Estado da Cultura de então, Santana Lopes (aquele que gostava de ouvir os concertos de violino de Chopin, lembram-se?), para  assinar o AO1990. Foi o próprio Santana Lopes que disse sem hesitações que: «Cavaco Silva foi peremptório: em seu entender, o Acordo Ortográfico era essencial para que, no século XXI, o português falado em Portugal não ficasse com um estatuto equivalente ao do latim…”. Disse a voz da ignorância pura de um suposto representante da Nação que trata os portugueses por “cidadões” nos discursos oficiais.

Já não sei se havemos de ter pena e é nossa obrigação piedosa perdoar-lhe, ou se, exigir ao homenzinho de Boliqueime que jurou defender a constituição, Portugal e os portugueses, para assumir a sua senilidade visível e sair já de Belém. É que a continuar assim, - cada tiro, cada melro – de cada vez que o Presidente da República entra em cena, Portugal fica mais pobre, diminuído e a nossa identidade a esvair-se a caminho de ser  uma nova província espanhola ou uma estância de férias alemã com SPA natural. 

sábado, 1 de agosto de 2015

São Demasiado Pobres os Nossos Ricos

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. 

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem. 

O maior sonho dos nossos novos-rícos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMWnão podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito concavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade. 

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos! 

São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído. 

Mia Couto, in 'Pensatempos' 

terça-feira, 14 de julho de 2015

A gente do AO: Políticos modernaços e ignorantes - Pacheco Pereira

Os apátridas da língua que nos governam.

Uma geração de apátridas da língua, todos muito destros em declamar que a “a nossa pátria é a língua portuguesa”, minimizam a nossa identidade e a nossa liberdade. É como se estivéssemos condenados a escrever como se urrássemos em vez de falar.




À memória do Vasco Graça Moura

Não sei se são válidos ou não os argumentos jurídicos que discutem a data da aplicação efectiva do Acordo Ortográfico [AO], se nestes dias, ou em 2016. Isso não me interessa em particular, a não ser para registar a pressa suspeita em o aplicar contra tudo e contra todos. Mas uma coisa eu sei ao certo: é que o desprezo concreto do bem que ele pretende regular, a língua portuguesa, é evidente nessa mistura sinistra de inércia, indiferença e imposição burocrática com que se pretende obrigar os portugueses a escrever de uma forma cada vez mais abastardada.

Na sua intenção original, o Acordo pretendia ser um acto de política externa, uma forma de manter algum controlo sobre o português escrito pelo mundo todo, como forma de garantir uma réstia de influência portuguesa num conjunto de países que, cada vez mais, se afastam da centralidade portuguesa, em particular o Brasil. Se é um “acordo” é suposto que seja com alguém. No entanto, desse ponto de vista, o AO é um grande falhanço diplomático, visto que está neste momento em vigor apenas em Portugal, com promessas do Brasil e Cabo Verde, esquecimento em Moçambique, Guiné Bissau, S. Tomé e Timor-Leste, e recusa activa em Angola. Nalguns casos há protelamentos sucessivos, implementações adiadas e uma geral indiferença e má vontade. Para além disso, nenhuma implementação do AO, vagamente parecida com a pressão burocrática que tem sido feita em Portugal, existe em nenhum país, a começar por aquele que parecia ser o seu principal beneficiado, o Brasil. Ratificado ele foi, aplicado, não.

Mas com o mal ou a sorte (mais a sorte que o mal) dos outros podemos nós bem, mas ele revela o absurdo do zelo português num AO falhado e que nos isolará ainda mais. Onde os estragos serão mais significativos é em Portugal, para os portugueses, e para a sua língua. É que o Acordo Ortográfico não é matéria científica de linguistas nem, do meu ponto de vista, deve ser discutido nessa base, porque se trata de um acto cultural que não é técnico, e como acto cultural em que o Estado participa, é um acto político e as suas consequências são identitárias. Não me parece aliás que colha o historicismo habitual, como o daqueles que lembram que farmácia já se escreveu “pharmácia”, porque as circunstâncias políticas e nacionais da actualidade estão muito longe de ser comparáveis com as dos Acordos anteriores.

É um problema da nossa identidade como portugueses que está em causa, na forma como nos reconhecemos na nossa língua, na sua vida, na sua história e na sua proximidade das fontes vivas de onde nasceu: o latim. Não é irrelevante para o português e a sua pujança, a sua capacidade de manter laços com a sua origem no latim e assim comunicar com toda a riqueza do mundo romano e, por essa via, com o grego, ou seja, o mundo clássico onde nasceu a nossa cultura ocidental. Esta comunicação entre uma língua e a cultura que transporta é posta em causa quando a engenharia burocrática da língua a afasta da sua marca de origem, mesmo que essas marcas sejam “mudas” na fala, mas estão visíveis nas palavras. As palavras têm imagem e não apenas som, são vistas por nós e pela nossa cabeça, e essa imagem “antiga” puxa culturalmente para cima e não para baixo.

O AO é mais um passo no ataque generalizado que se faz hoje contra as humanidades, contra o saber clássico e dos clássicos, contra o melhor das nossas tradições. Não é por caso que ele colhe em políticos modernaços e ignorantes, neste e nos governos anteriores, que naturalmente são indiferentes a esse património que eles consideram caduco, ultrapassado e dispensável. Chegado aqui recordo-me sempre do “jovem” do Impulso Jovem aos saltos em cima do palco a dizer “ó meu isso não serve para nada”, sendo que o “isso” era a história. Esta é a gente do AO, e, como de costume, encontram sempre sábios professores ao seu lado, os mesmos que vêem as suas universidades a serem cortadas, em nome da “empregabilidade”, da investigação nas humanidades e em sectores como a física teórica e a matemática pura, teorias sem interesse para os negócios. “Ó meu, isso não interessa para nada!”.
José Pacheco Pereira