domingo, 5 de julho de 2009
Uma demissão agarrada pelos cornos
O último debate desta legislatura sobre o estado da Nação não teria passado de mais uma peixeirada sem nível, a espelhar a mediocridade da esmagadora maioria dos deputados da nação, não fosse uma imagem e um gesto que valeu por mil palavras.
Provocado pelo rapaz Bernardino, líder parlamentar do PCP, qual anjinho papudo de face rechonchuda e fel na ponta da língua, o ministro (agora, ex-ministro) da economia, Manuel de Pinho, apontou-lhe um portuguesíssimo par de chifres, com os dedos bem em riste ao lado das têmporas, para que não tivéssemos dúvidas que estávamos a falar de um belíssimo par de cornos.
Tão atentos estavam os deputados do hemiciclo ao debate entre o primeiro-ministro e o cónego Louçã que, de imediato, se instalou o burburinho no parlamento. Vá lá saber-se porquê. Se pelo gesto contra o deputado-menino do PCP, se porque a imagem em si, mais valiosa que mil palavras, lhes criou qualquer tipo de urticária mental.
Um escândalo! – vociferou o plenário, sem saber nem perceber o porquê daquele gesto. Aliás, ninguém o soube explicar! Ninguém sabe o que Manuel de Pinho quis dizer a Bernardino Soares. Será que foi apenas uma forma gestual de dizer “eu parto-lhe os cornos”, ou, “você tem uns bons cornos”, ou ainda, “os cornos são meus e ninguém tem nada com isso”! Ninguém sabe o que o ministro quis dizer.
De imediato se sucederam as oposições a espalhar baba e ranho pelas bancadas e a pedir a cabeça enfeitada do ministro numa bandeja rosa, tudo isto na expectativa de que Sócrates salvasse Manuel de Pinho. Mas o ministro, que saiu do plenário convencido de que ficava no governo, foi mesmo demitido por Sócrates, sem apelo nem agravo foi para o olho da rua.
Por seu lado, a oposição, obrigada a aplaudir a atitude do primeiro-ministro, não esteve com meias medidas e de imediato colou o acto excêntrico de Manuel de Pinho a um eventual desnorte do governo, com discursos mais ou menos verborreicos de pleno abuso, que retrata uma oposição bacoca que se agarra a tudo excepto a ideias. Aliás, é esse o maior problema do governo – não tem uma oposição com nível em Portugal.
Enfim… o último debate do estado da Nação desta legislatura fica para a história por causa de um par de cornos com que um ministro se suicidou politicamente, em plena Assembleia da República e em directo para todo o país.
O velho anarca Luís Pacheco ter-lhe-ia chamado “homem de tomates”. Os deputados da 1ª República ter-lhe-iam chamado menino de coro. Os deputados desta democracia urraram a sua morte na arena, como se pedia para os gladiadores derrotados.
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