sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Uma consoada diferente
25 de Dezembro de 2009 – madrugada adentro, noite fria por fora, inicia-se a consoada deste natal diferente na tebaida de um escritor (entenda-se um tipo que ganha a vida a escrever livros e outras coisas que dão dinheiro para a sopa). A dúvida é se a mesa é suficientemente grande para tantos convidados! ; foram chegando ao longo da semana pela mão de pessoas, da triste realidade e ainda por via da veemente intimidade a que nos obriga a solidão.
Aristides de Sousa Mendes veio para contar a sua história; Gabriel Garcia Márquez também, e nenhum gosta de bacalhau cozido, o que é um descanso para mim; entretanto chegou o Ricardo Araújo Pereira com as crónicas debaixo do braço e com uma fome desgraçada; o último a chegar foi o Chico Manata, residente do “hotel estrela” e que apenas trazia fome e um cartão novo acabadinho de receber pelo pai natal para dormir esta noite de consoada no aconchego do passeio da avenida da liberdade.
Cada um portador da sua filosofia de vida, todos capazes de se rirem de si próprios, antes de se sentarem à mesa olharam-me a estante dos livros de sempre e ainda sugeriram que se convidasse o Fernando Pessoa, apesar de muito coçado, mas a maioria votou contra, até porque o tipo era um facho do carago , sidonista assumido, há quem diga que pouco amigo do sexo oposto e ainda por cima esquizofrénico! Era só o que faltava para uma consoada como esta. Da política colombiana à fuga dos judeus para Portugal, tudo foi esmiuçado na nossa ceia da passada madrugada. Só o Chico Manata comia para mais uns dias de avenida da liberdade, como ele dizia “a trabalhar para a linha” e depois assoava-se ao guardanapo e limpava os olhos à manga da gabardina que lhe aconchega o frio dos últimos cinco anos.
A porra da televisão está sem som, como deve de ser, porque aqui a missa é outra e outros galos cantam… aqui as orações são mais revoltas que esperanças e a fome de que se fala é mais a dos outros – dos sem-abrigo como o Chico Manata, dos putos à volta dos contentores de lixo na cidade da Praia, dos reclusos de todas as espécies, das crianças da Somália, da Etiópia, do Uganda, de Darfur e dos outros países onde nem existe o conceito de fome porque não existe o conceito de alimentação, das mães desesperadas porque as mamas lhes secaram e nada lhes resta a não ser assistir à morte dos filhos de olhar branco e parado, como o dos veados à espera de serem abatidos. Enfim… dos 800 milhões de seres humanos que no planeta vivem à fome.
Com excepção do Chico, todos deixamos o bacalhau no prato, desligou-se a televisão e fomos à vida. Esta manhã, tinha um bilhete debaixo da porta com um poema que não leio para não vos estragar o natal; era do Chico Manata a agradecer o resguardo da minha soleira, onde apreciou o aconchego do novo cartão-cobertor do pai natal deste ano.
Virei-me para o Fernando Pessoa, de olhar cabisbaixo, e disse-lhe: sobre estes gajos é que tu nunca escreveste, meu cabrão, e o poeta calou-se, envergonhado dentro de uma das suas personalidades.
Para o ano prometo convidar outros convivas e continuar com a televisão sem som.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Portugal cai para 30.º lugar em 'ranking'
Na lista, elaborada anualmente pela organização Repórteres sem Fronteiras, o país perdeu 14 posições.
Portugal caiu do 16.º para 30.º lugar no ranking de liberdade de imprensa elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, e divulgado ontem. Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Noruega e Suécia partilham o primeiro lugar, enquanto Cuba, Birmânia, Irão, Turquemenistão, Coreia do Norte e Eritreia ocupam os últimos lugares da lista.
O estudo - que analisa o respeito pelo trabalho do jornalistas e o número de obstáculos que enfrentam para chegar à informação - foi realizado em 175 países e considerou o período entre 1 de Setembro de 2008 e 1 de Setembro de 2009. São contabilizadas, entre outros variáveis, o número de agressões, prisões e ameaças políticas e económicas aos profissionais de comunicação, ameaças indirectas e pressões e censura.
Apesar de classificar Portugal como estando "em boa situação" face à liberdade de imprensa, a organização internacional afirma ter-se verificado uma queda de 14 posições na lista dos mais respeitadores da liberdade de imprensa, passando a estar ao nível da Costa Rica e do Malí. Em 2008, Portugal estava em 16º lugar, com a Holanda, Lituânia e República Checa.
A Repórteres Sem Fronteiras alerta ainda que a Europa, em conjunto, recuou em termos de liberdade de impressa.
Paquete de Oliveira, sociólogo, provedor do espectador da RTP, afirma que através do ranking "constata-se que os próprios órgãos de comunicação social foram acusando os condicionalismos. Nos últimos anos vimos grande conflitualidade política e isso originou maiores condicionamentos", diz, comentando os resultados de Portugal à luz dos obstáculos que vão sendo colocados aos jornalistas.
O jornalista Adelino Gomes, provedor do ouvinte da RDP, recebeu a notícia com "surpresa e lamento", considerando que "é um péssimo sinal porque é contra a liberdade de imprensa"
O presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação social Azeredo Lopes, recusou comentar "positiva ou negativamente" a posição de Portugal no ranking, porque os dados de 2008 "foram elaborados com um número muito baixo de respostas". "Se forem em número suficiente, pronuncio-me", declarou ao DN.
"A Europa, que foi durante muito tempo um exemplo em matéria de respeito pela liberdade de imprensa", recuou na lista, contabilizando apenas 15 países na lista dos 20 primeiros classificados, contra os habituais 18.
Por LINA SANTOS (LUSA)
Portugal caiu do 16.º para 30.º lugar no ranking de liberdade de imprensa elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, e divulgado ontem. Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Noruega e Suécia partilham o primeiro lugar, enquanto Cuba, Birmânia, Irão, Turquemenistão, Coreia do Norte e Eritreia ocupam os últimos lugares da lista.
O estudo - que analisa o respeito pelo trabalho do jornalistas e o número de obstáculos que enfrentam para chegar à informação - foi realizado em 175 países e considerou o período entre 1 de Setembro de 2008 e 1 de Setembro de 2009. São contabilizadas, entre outros variáveis, o número de agressões, prisões e ameaças políticas e económicas aos profissionais de comunicação, ameaças indirectas e pressões e censura.
Apesar de classificar Portugal como estando "em boa situação" face à liberdade de imprensa, a organização internacional afirma ter-se verificado uma queda de 14 posições na lista dos mais respeitadores da liberdade de imprensa, passando a estar ao nível da Costa Rica e do Malí. Em 2008, Portugal estava em 16º lugar, com a Holanda, Lituânia e República Checa.
A Repórteres Sem Fronteiras alerta ainda que a Europa, em conjunto, recuou em termos de liberdade de impressa.
Paquete de Oliveira, sociólogo, provedor do espectador da RTP, afirma que através do ranking "constata-se que os próprios órgãos de comunicação social foram acusando os condicionalismos. Nos últimos anos vimos grande conflitualidade política e isso originou maiores condicionamentos", diz, comentando os resultados de Portugal à luz dos obstáculos que vão sendo colocados aos jornalistas.
O jornalista Adelino Gomes, provedor do ouvinte da RDP, recebeu a notícia com "surpresa e lamento", considerando que "é um péssimo sinal porque é contra a liberdade de imprensa"
O presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação social Azeredo Lopes, recusou comentar "positiva ou negativamente" a posição de Portugal no ranking, porque os dados de 2008 "foram elaborados com um número muito baixo de respostas". "Se forem em número suficiente, pronuncio-me", declarou ao DN.
"A Europa, que foi durante muito tempo um exemplo em matéria de respeito pela liberdade de imprensa", recuou na lista, contabilizando apenas 15 países na lista dos 20 primeiros classificados, contra os habituais 18.
Por LINA SANTOS (LUSA)
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
A asfixia democrática de um fariseu de pacotilha
É nos pequenos exemplos que se vêm os grandes desígnios, mesmo aqueles que de bom nada têm para o ser humano e para os cidadãos das sociedades. Basta recordar atentamente a história dos grandes ditadores, para perceber isso. Mas nem sempre os exemplos de falta de carácter e fascismo encapotado se vêem nos históricos opressores da humanidade. Em Portugal há especialistas de baixíssimo quilate, ditadores de pacotilha ou de café de aldeia, que quando chegam ao poder tiram uma espécie de curso intensivo de caciquismo local e assim se julgam donos deste mundo e do outro.
A história que aqui vos deixo é verdadeira, escandalosa, e aconteceu na pequena cidade da Régua nos últimos dias. Leiam atentamente e digam-me se este é ou não é o mais cabal exemplo de asfixia democrática, um termo tanto em voga na linguagem laranja deste país e que agora lhes saiu das entranhas como um vómito de fariseu local.
Há duas ou três semanas a rádio Douro FM resolveu organizar um debate em directo com os quatro candidatos à presidência da câmara municipal de Peso da Régua, e para isso convidou, através do director em exercício, todos os partidos concorrentes, indicando as regras do debate e o moderador, um jornalista sem filiação partidária nem compromisso político, isento e com a carteira profissional em dia, ainda por cima o cronista político semanal da referida rádio. Todos os partidos se disponibilizaram, sem problemas, à excepção do PSD, que deixou algumas reticências no ar e ficou de dar uma resposta.
Algumas horas depois, o proprietário da rádio era abordado directamente pelo candidato do PSD da Régua, Engº Nuno Gonçalves, dizendo que não concordava com o moderador escolhido, e, note-se, que este tinha de ser mudado, como se fosse ele mesmo o proprietário da rádio! Ao que se sabe, o proprietário da rádio ainda tentou dissuadi-lo desta posição por várias vezes, mas não conseguiu, e, vá-se lá saber porque razões ou interesses, o proprietário da rádio, sem consultar o seu director, cedeu perante o autarca, no sentido de anular o debate, sendo que o director em exercício se recusava a mudar o moderador que tanto assustava Nuno Gonçalves. Aqui, diga-se em abono da verdade, o proprietário da rádio demonstrou uma inqualificável falta de carácter, de personalidade e a mais fácil covardia.
Entretanto, o fariseu local, que tinha assinado em tempos um protocolo com a referida rádio, no qual se comprometia a não interferir de qualquer modo nos conteúdos editoriais da rádio, exerceu assim a mais escandalosa e salazarenta censura política pública, dando forma e conteúdo à tal asfixia política de que fala a sua líder – Manuela Ferreira Leite – e demonstrando que não é só a nível nacional que se perseguem jornalistas livres e isentos, e ainda demonstrando que é ao nível das autarquias que, mais de trinta anos depois do 25 de Abril de 74, persiste o bafiento caciquismo e autoritarismo anti-democrático que é preciso denunciar já.
Ao engº Nuno Gonçalves aplica-se o célebre ditado que diz “quem faz um cesto, faz um cento” e ao PSD aplica-se um outro que diz: “Pela boca morre o peixe”. Oxalá o povo esteja atento e perceba que por detrás de cada sorriso eleitoral desta gente está um fariseu militante.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Museu faz um Manguito ao Douro
Parece mentira mas é verdade! Há já quem faça colecção dos dislates do director do Museu do Douro com a cobertura da pobre administração da Fundação do Museu do Douro. Desta vez, o director do museu resolveu brindar os durienses com uma exposição de Rafael Bordalo Pinheiro!!! Exactamente! O caricaturista de Lisboa que nem sequer conheceu o Douro ou dele alguma coisa caricaturou! Para que conste, é salutar que se leia algo da sua história.
«Raphael Augusto Bordallo Prestes Pinheiro nasceu a 21 de Março de 1846 no nº 47 da Rua da Fé, em Lisboa. Apaixonado pelo lado boémio da vida lisboeta e avesso a qualquer disciplina, matriculou-se sucessivamente na Academia de Belas-Artes (desenho de arquitectura civil, desenho antigo e modelo vivo), no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática, para logo de seguida desistir. Estreia-se como actor no Teatro Garrett e no luxuoso Theatro Thalia na costa do Castelo.
Começou a fazer caricatura por brincadeira. Mas é a partir do êxito alcançado pel'O Dente da Baronesa (1870), folha de propaganda a uma comédia em 3 actos de Teixeira de Vasconcelos, que Bordalo entra definitivamente para a cena do humorismo gráfico. "Comecei a sentir um formigueiro nas mãos e vai pus-me a fazer caricaturas", explica em tom irreverente o artista para quem o propósito das "caricaturas é estragar o estuque de cada um com protesto do senhorio".»
É nesta época que Bordalo Pinheiro retrata o povo português através do célebre manguito político do apelidado Zé Povinho, que acabaria por ficar como a sua imagem de marca e a sua caricatura mais significativa. Resta então saber que razão e interesse científico para a afirmação e para o projecto do Museu do Douro encontrou o seu director na arte de Bordalo Pinheiro. Será que não lhe chegam os conhecimentos para convocar aqueles artistas que algo dizem ao Douro e com quem o Douro pode e deve conviver? Ou será que o afamado Zé Povinho diz ao sr. director algo de íntimo a que o seu lado narciso não consegue resistir? Convém relembrar o “Zé Povinho” caricaturado por Ramalho Ortigão: «De calças remendadas e botas rotas, é a eterna vítima dos partidos regenerador e progressista, dando a vitória a uns ou outros em época eleitoral. Usando como expressão corporal o manguito e a mão coçando aflita a grenha farta, foi sem dúvida um trunfo na denúncia duma economia capitalista frouxa.»
De economias muito frouxas está o Museu do Douro, remendando defeitos aqui e acolá, estendendo a mão à Associação de Amigos do Museu para manter a sua exposição permanente aberta, ao mesmo tempo que gasta dezenas de milhares de euros numa esplanada patrocinada por uma marca de cerveja! (será que esta bebida que tudo tem a ver com o Douro, também faz parte dos desejos narcisos do sr. director?) Pior que isto, é aceitar e promover o “patrocínio” oportunista dado por uma região de turismo do Porto e Norte de Portugal, “cuspindo” desta forma na face da Entidade Regional do Turismo do Douro, e por consequência, na face dos durienses. “Que grande gestão e que superior direcção!!!” – Diria o Zé Povinho fazendo um verdadeiro manguito a esta trupe de directores, administradores e seus mandarinetes que assim vão enchendo os seus coletes. Não estará na hora de descobrir o que esta gente muito tem ainda para esconder? Se calhar está na hora de se levantarem as vinhas da ira duriense em defesa de uma instituição tão importante e tão séria para a região. Chegou a hora da verdade…
sábado, 15 de agosto de 2009
O DESPESISMO DA FUNDAÇÃO DO MUSEU DO DOURO
São dados públicos, constantes do site ligado ao governo «Transparência na Administração Pública» (http://transparencia-pt.org/?search_str=nif:507693671). Só de 24.11.2008 a 17.02.2009 (mas, de facto, referindo-se, essencialmente, a trabalhos realizados em Nov.-Dez. de 2009), a FMD fez ajustes directos no valor de 733.602,19 € (quase a totalidade da receita fundacional anual), isto sem contar as despesas de pessoal e muitos outros ajustes feitos antes de Novembro de 2008, nomeadamente para a Exposição do Barão de Forrester, equipamento da sede e outras. Ou seja, é apenas a ponta do iceberg, que aparecerá, certamente, mais visível, quando se conhecerem as contas de 2009. Estes valores suscitam muitas dúvidas que valia a pena esclarecer em nome da boa gestão do MD que nos diz respeito a todos: i) houve ou não houve obras a mais (no relatório de 2008, aparecem mais de 240 mil euros acima do valor da adjudicação; agora somam-me mais uns cobres, tirando as obras previstas que não foram feitas)? ii) houve ou não houve equipamentos que deveriam constar da obra inicial e que foram pagos à parte? iii) houve ou não despesismo em relação a certas actividades, como a exposição do Barão de Forrester (não constam desta lista a maior parte dos equipamentos, pagamentos a funcionários, comissários, empresa de montagem, seguros, transportes, etc.)? iv) houve ou não houve aproveitamentos estranhos nos trabalhos de concepção e montagem da exposição do Barão de Forrester, já que nos surgem facturas do Gabinete Zute Arquitectos (não era o arq. Fernando Seara, proprietário dessa empresa, colaborador remunerado do MD à data da adjudicação?), de produção de conteúdos e outras funções técnicas, para as quais existiam técnicos do MD habilitados, além de uma comissária contratada? v) só os materiais gráficos e fotográficos da exposição Barão de Forrester ultrapassam os 110 mil euros, incluindo o respectivo catálogo; não será exagero? Por estas e por outras, que revelam o desvario despesista, a FMD não tem dinheiro para manter aberta, em Agosto, a exposição permanente «Memória da Terra do Vinho», na altura em que, face à afluência de turistas à região, mais se impunha a divulgação dessa exposição, que pretende representar a memória e a cultura vinhateira do território regional. Só a intervenção da AAMD, pagando os funcionários que irão manter aberta essa exposição, evitou que se consumasse o seu encerramento, ao mesmo tempo que abria uma esplanada «Super-Bock» no jardim do Museu... Não deixa de ser estranho muito do que se está a passar no Museu do Douro, com a cumplicidade do Ministro da Cultura e dos poderes locais.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
MINISTRO DA CULTURA INSULTA O DOURO – DEMITA-SE JÁ
Foi há cerca de quinze dias que a notícia caiu em toda a região duriense como uma bomba. Os durienses ficaram à beira de um ataque de nervos! Na verdade, com um atraso de nove meses, o Ministro da Cultura acabou por nomear os dois elementos que faltavam para preencher o novo conselho de administração da Fundação do Museu do Douro. Como se o seu atraso e consequente desprezo pela região e pelos amigos do Museu do Douro não bastasse, o “iluminado” ministro resolveu nomear uma senhora de Porto que não conhece o Douro e que o Douro não reconhece – Isabel Babo – e, pior que isto, renomeou Agostinho Ribeiro, director do Museu de Lamego e candidato do PS nas próximas eleições autárquicas, um dos principais responsáveis pela anterior administração e pelos erros fatais que cometeu contra a própria instituição e contra o futuro do museu do Douro, nomeadamente o afastamento do director de então, Prof. Gaspar Martins Pereira, e o processo judicial de que a Fundação do Museu do Douro é alvo neste momento e de que já foi condenado em duas instâncias judiciais, o que levará a fundação a pagar ao autor que foi despedido sem justa causa – Dr. Francisco Gil Silva – um indemnização de muitas dezenas de milhares de euros! É neste tipo de pessoas que o actual Ministro da Cultura quer confiar o futuro do Museu do Douro!
Como se isto não chegasse, o Museu do Douro parece estar tecnicamente falido, pois para que a sua exposição permanente não fechasse por falta de verba para pagar aos funcionários, teve de ser a Associação de Amigos do Museu do Douro a pagar os respectivos salários! Quando confrontado com esta realidade de falência do Museu do Douro, o Ministro da Cultura mente com quantos dentes tem na boca e diz que tudo é mentira!
O Douro está revoltado com este ministro e com este jogos de bastidores e lobbies que sempre funcionaram com a cultura a nível nacional. Há mesmo quem diga que a dita senhora foi nomeada por pura influência de amizades e que o ex-administrador de Lamego foi nomeado por ter aceite ser candidato de uma causa perdida, ou seja, a eleição para a autarquia de Lamego. Será??????
Só faltava mesmo isto, depois de o Museu do Douro ter sido ao longo de mais de três anos uma espécie de Santa Casa da Misericórdia do PSD da Régua, liderado pelo Presidente da Câmara Nuno Gonçalves, que, para além de ter metido dezenas de novos trabalhadores sem qualificação nos quadros do museu, ainda teve tempo de sobra para cozinhar a nova administração de modo a que esta se transformasse no Kremlin laranja da região !!!???
Uma coisa é certa, os durienses foram ludibriados, enganados e maltratados por um ministro que não é mais do que um erro de casting do Primeiro-Ministro José Sócrates, e que com esta atitude lhe retira muitos milhares de votos no Douro.
Sr. Primeiro-Ministro, Excelência, o seu ministro da cultura acordou as vinhas da ira duriense.
domingo, 5 de julho de 2009
Uma demissão agarrada pelos cornos
O último debate desta legislatura sobre o estado da Nação não teria passado de mais uma peixeirada sem nível, a espelhar a mediocridade da esmagadora maioria dos deputados da nação, não fosse uma imagem e um gesto que valeu por mil palavras.
Provocado pelo rapaz Bernardino, líder parlamentar do PCP, qual anjinho papudo de face rechonchuda e fel na ponta da língua, o ministro (agora, ex-ministro) da economia, Manuel de Pinho, apontou-lhe um portuguesíssimo par de chifres, com os dedos bem em riste ao lado das têmporas, para que não tivéssemos dúvidas que estávamos a falar de um belíssimo par de cornos.
Tão atentos estavam os deputados do hemiciclo ao debate entre o primeiro-ministro e o cónego Louçã que, de imediato, se instalou o burburinho no parlamento. Vá lá saber-se porquê. Se pelo gesto contra o deputado-menino do PCP, se porque a imagem em si, mais valiosa que mil palavras, lhes criou qualquer tipo de urticária mental.
Um escândalo! – vociferou o plenário, sem saber nem perceber o porquê daquele gesto. Aliás, ninguém o soube explicar! Ninguém sabe o que Manuel de Pinho quis dizer a Bernardino Soares. Será que foi apenas uma forma gestual de dizer “eu parto-lhe os cornos”, ou, “você tem uns bons cornos”, ou ainda, “os cornos são meus e ninguém tem nada com isso”! Ninguém sabe o que o ministro quis dizer.
De imediato se sucederam as oposições a espalhar baba e ranho pelas bancadas e a pedir a cabeça enfeitada do ministro numa bandeja rosa, tudo isto na expectativa de que Sócrates salvasse Manuel de Pinho. Mas o ministro, que saiu do plenário convencido de que ficava no governo, foi mesmo demitido por Sócrates, sem apelo nem agravo foi para o olho da rua.
Por seu lado, a oposição, obrigada a aplaudir a atitude do primeiro-ministro, não esteve com meias medidas e de imediato colou o acto excêntrico de Manuel de Pinho a um eventual desnorte do governo, com discursos mais ou menos verborreicos de pleno abuso, que retrata uma oposição bacoca que se agarra a tudo excepto a ideias. Aliás, é esse o maior problema do governo – não tem uma oposição com nível em Portugal.
Enfim… o último debate do estado da Nação desta legislatura fica para a história por causa de um par de cornos com que um ministro se suicidou politicamente, em plena Assembleia da República e em directo para todo o país.
O velho anarca Luís Pacheco ter-lhe-ia chamado “homem de tomates”. Os deputados da 1ª República ter-lhe-iam chamado menino de coro. Os deputados desta democracia urraram a sua morte na arena, como se pedia para os gladiadores derrotados.
sábado, 30 de maio de 2009
Carta para o “poeta”, um cão com alma de gente…
Não é fácil escolher as palavras, tão pouco adjectivos, para descrever a perda de dezasseis anos de afectos e cumplicidades. Mas é imperioso que as raridades se registem.
Depois dos primeiros anos de silenciosos olhares num escritório onde entravas sorrateiramente e te deitavas debaixo de uma mesa onde eu enchia folhas brancas, reencontramo-nos num dia de Inverno, debaixo de chuva, muitos quilómetros depois. Um abraço definitivo devolveu-nos o aconchego das cumplicidades e do diálogo de sinais, de noites inconfessáveis de segredos e fidelidades. Entretanto, os anos caíram-te em cima sem dó nem piedade, envelhecemos e, às vezes, envilecemos lado a lado, sempre os dois, no perfeito compromisso entre o cão e o seu dono. Foste o único que me viu no rosto a desnudada verdade da dor e do amor, e guardaste esse nosso segredo com o respeito e o carinho que só um cão especial pode dar.
Escolheste um dia de Primavera para partir a caminho do merecido repouso, depois de teres marcado este dono com cada gesto, cada olhar, cada atitude, como se de versos soltos e vírgulas de um poema se tratasse. Afinal, nada acontece por acaso e não terá sido por acaso que alguém te baptizou de “poeta”. O teu carácter inquebrantável, a tua personalidade férrea, que mais parecia de gente rara, ditavam a música da poesia que fruía do nosso convívio. Teimoso, cioso e infeliz como um verdadeiro vate, tu, meu cão, ficas gravado para sempre na minha alma de humilde pecador. Entretanto, é do teu olhar vítreo e parado com que enfrentaste a morte, que jamais me esquecerei, porque afinal a morte tem rosto e abraçou-te sem que eu pudesse salvar-te. Perdoa-me esta impotência humana. Só agora percebo os teus olhares de aviso dos últimos dias, os carinhos finais que me pedias, poeta, e em que eu nunca acreditei, porque não queria perder-te. Mas perdi-te, ou talvez não, depois daquele último olhar lateral a pedir um último abraço de despedida. Abracei-te para sentir o estertor do teu adeus, beijei-te e chorei a tua morte como uma parte de mim, meu cão. Escrevo-te hoje, um dia depois, como quem escreve uma última carta de amor. Talvez um dia voltemos a brincar e a falar aquela linguagem que só nós entendíamos. Enquanto isso, os homens continuarão piores que todos os cães, e muito poucos serão dignos do teu carácter e da tua fidelidade. Até amanhã, meu cão.
sábado, 23 de maio de 2009
Meu Caro Dr. José Eduardo Moniz,
Hoje é sexta-feira e mais uma vez vou ser privado de ver o “Jornal Nacional” da TVI, o que me incomoda francamente. Incomoda-me porque o serviço informativo da TVI é de longe o que mais me agrada, quer como cidadão, quer como jornalista profissional de há muitos anos, com experiência em rádio, jornais e revistas. Resolvi escrever-lhe esta carta porque tendo obrigação de conhecer os cânones por que se rege qualquer estatuto editorial e quais as obrigações e deveres éticos e profissionais por que deve reger-se um jornalista, não posso deixar de ficar revoltado com o comportamento a que se permite a apresentadora e jornalista Manuela Moura Guedes, na forma como conduz e trata as notícias do referido jornal nacional.
Para além da inquestionável arrogância com que o faz, a apresentadora não tem qualquer problema em quebrar regras do jornalismo e da isenção a que se obriga qualquer órgão de comunicação social. Para além de tomar partido e emitir opinião pessoal sobre as questões, Manuela Moura Guedes não hesita em emitir metáforas ou juízos de valor em tom jocoso e irónico, seja acerca das notícias em si, seja acerca das personalidades em questão, sejam elas quem forem, roçando a maior parte das vezes o comentário político, que não lhe diz respeito, porque não é essa a sua função. Com todo o respeito que lhe possa merecer, a jornalista em causa chega mesma a ser irritante, senão mesmo inconveniente! E estou a falar de todo o jornal, sem sequer referir em especial o diálogo com o comentador Vasco Pulido Valente, quando ainda se conseguem perceber as palavras que este profere.
Por isso lhe sugiro que, em coerência com o seu excelente trabalho à frente da estação, tenha uma vez mais a coragem de corrigir uma situação que incomoda os portugueses e envergonha os jornalistas que honram e respeitam a sua carteira profissional.
Aproveito para lhe dizer que lhe escrevo esta carta com o à-vontade de quem também não defende políticos ou governantes. Faço-o ainda com o à-vontade de quem há pouco mais de um mês foi despedido da revista onde trabalhava porque escreveu uma crónica sobre liberdade de expressão de que o director não gostou por se ter revisto nela!
José Braga-Amaral - jornalista
(Carteira Profissional nº 6760)
sábado, 9 de maio de 2009
Presidente da Junta de Freguesia da Régua invade Tertúlia de João de Araújo Correia
No passado dia 23 de Abril, quando se deslocava à sala sede da Tertúlia de João de Araújo Correia, cedida pela junta de Freguesia de Peso da Régua em 20 de Setembro de 2002, por protocolo de cedência formal assinado pelas partes, a vice-presidente da Tertúlia, Maria da Luz Magalhães, deparou com as instalações invadidas por operários da construção civil, fazendo obras em todo o espaço da referida sala, desde levantar paredes até colocação de grades, como se pode ver pelas fotos tiradas ao espaço pouco tempo depois. Pior que tudo isto é a forma como estava abandonado a monte e de forma pouco protegida, não só o mobiliário da tertúlia como o espólio documental e literário da mesma, bem como objectos pessoais do escritor. Tudo isto foi feito por ordem e responsabilidade do actual presidente da junta, Sr. Ilídio Mendes, que assim tomou a sala da Tertúlia de João de Araújo Correia de forma abusiva e sem qualquer pedido, proposta ou satisfação dada a qualquer membro da direcção da Tertúlia.
Segundo as cláusulas do referido protocolo de cedência, é claro que a cedência é feita de forma gratuita e sem tempo determinado que não seja o momento de a Tertúlia obter uma sede própria, o que não aconteceu. Não tendo até à data nenhuma das partes denunciado este protocolo, e em boa verdade de rigor jurídico, a Junta de Freguesia de Peso da Régua, não deixando de ser a proprietária do espaço, não deveria ter sequer a chave de acesso à sala em questão.
Com a atitude de abuso, falta de ética e ausência de princípios demonstrados pela arrogância de entrar e mexer sem autorização e conhecimento da direcção da Tertúlia de João de Araújo Correia, o Presidente da Junta de Freguesia da Régua, não só maltratou as pessoas em questão, como desrespeitou o protocolo assinado pela instituição a que preside, e, mais grave do que isto, vandalizou a memória e o nome de João de Araújo Correia, médico e escritor reconhecido como o maior contista português do século XX e referência identitária da região duriense e da sua capital.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Há atum no Douro!!!
Acredite ou não, a verdade é que há atum no Douro! E tão importante é ou foi a presença do atum no rio Douro, que tem lugar a destaque no Museu do Douro! A sério, não estou a brincar. Se for visitar o jovem Museu do Douro poderá deparar com uma vitrina cheinha de latas de atum Ramirez à venda na loja do museu! Na verdade, tem tudo a ver, não tem? Quem terá, ou o que é que terá "iluminado" a cabecinha "pensante" do Museu do Douro que decidiu pôr à venda latas de atum na loja onde é suposto adquirir algo que de alguma forma possa estar relacionado com a região?
Era mesmo bom que se pudesse saber a razão exacta que leva o responsável pelo museu a pôr lá à venda atum e da específica marca Ramirez.
Que maldade nos fizeram os historiadores que não nos deixaram o registo da existência de atum no Douro. Ou será que o director do museu do Douro conseguiu apurar que o cadáver do Barão de Forrestar foi para ao oceano e aí foi deglutido precisamente por um atum esfomeado?
A falta de senso tem limites, não é?
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
nocturno 1
só quem já entrou para dentro das estrelas
pode perceber o brilho do teu sorriso,
o tamanho do teu olhar,
ambos me acariciam a retina
como se fosse uma pluma prateada…
talvez por isso ela chore a tua ausência;
só quem ouviu o segredar do golfinho
é capaz de perceber a doçura
dos teus gemidos de amor
e clamar por eles com a força do rugido;
só quem assistiu ao sussurro do cavalo
a quem a mão se partiu, ou,
do felino a quem a mãe lambe as feridas,
pode entender o silêncio do sofrimento,
o olhar branco e parado do veado
à espera de ser abatido;
talvez essa paralisia seja
a única ajuda para a passagem
das horas de separação
talvez por isso…
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Quando se fecha para sempre o sorriso da serenidade
A notícia chegou-me horas depois, de forma mais ou menos fria, no meio de uma inauguração pública. De imediato associei ao sentido de perda o sentimento de saudade, de fim insubstituível de algo único. Invadiu-me a consciência de uma pobreza maior, de vazio de tantas coisas! A falta de um abraço e de um sorriso vestido de serenidade. Olhei o chão de pedra que parecia querer deixar de me sustentar e por esse granito passou o filme de todos os momentos vividos e saboreados pela presença do Dr. Fernando Amaral. Tinha sido apenas há horas que a inevitabilidade da vida nos retirara do convívio desse homem enorme que reunia todas as qualidades dos grandes homens.
Apesar dos seus oitenta e quatro anos, a sua frescura intelectual permitia-lhe, com um sorriso quase cândido, dizer as coisas mais sérias, aliadas a uma capacidade oratória que, para além de geracional, lhe corria no sangue com a mais-valia de um viver e saber acumulado ao longo de toda uma vida de experiências e conhecimento da comédia humana de Balzac, tantas vezes com a frontalidade e o humor cortante de Voltaire. Tantas vezes, ou quase sempre, de improviso, Fernando Amaral urdia, ali mesmo, onde quer que fosse ou perante quem quer que fosse, a partir de uma frase ou de uma causa, discursos que nos deliciavam pela sua eloquência e pela reflexão a que obrigavam.
Os Homens da sua estatura moral e intelectual não acontecem por acaso, têm um percurso, uma vida vivida e saboreada, ora com sabor a vitória, ora com o sabor acre das derrotas e das desilusões. Mas nada demoveu Fernando Amaral de afirmar a sua personalidade, o seu carácter e o seu sentido apurado de liberdade. Nunca mandou dizer nada por ninguém e nenhum homem o obrigou a calar-se ou a deixar de afirmar a sua razão. Não pelo estatuto de que usufruiu em cada momento, mas pela seu indelével respeito pela verdade e pela liberdade intelectual.
Fernando Monteiro do Amaral nasceu no Lugar do Eirô, na freguesia de Cambres, no concelho de Lamego, a 21 de Dezembro de 1924. Aos 7 anos veio para Lamego com seus pais, quando estes vieram estabelecer uma taberna no lugar do Passeio Alto, onde concluiu o ensino Primário e o liceu. No Porto acabou o curso do Magistério Primário. Foi professor e, enquanto isso, fez a sua licenciatura de Direito na Universidade de Coimbra, tendo sido advogado com reconhecido sucesso até entrar no mundo da política com a chegada da democracia. Foi deputado da Assembleia Constituinte, deputado legislativo, Ministro da Administração Interna e Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro Francisco Pinto Balsemão. Foi eleito Vice-Presidente e Presidente da Assembleia da República entre 1983 e 1987. Foi ainda membro do Conselho de Estado, Vice-Presidente do Conselho da Europa e membro da Comissão dos Direitos do Homem do Conselho da Europa. Foi autarca e Presidente da Assembleia Municipal de Lamego.
Apesar de tudo isto, nunca deixou de ser igual a si próprio, homem de carácter granítico e personalidade, de “antes quebrar que torcer” e de não deixar os is sem pontos, bem carregados, quando era caso disso. A este temperamento e forma de estar associava um enorme sentimento de cidadania, sem rejeitar nunca as suas raízes humildes, o seu lugar, e sobretudo a sua disponibilidade para com todos falar e a todos ajudar, sempre com a tolerância e a racionalidade necessárias. Nutria com o mesmo respeito a sua amizade por políticos do mais elevado coturno, como Mário Soares, seu particular amigo, ou líderes internacionais da sua geração, como pelo mais simples dos cidadãos, para quem tinha sempre uma palavra de apreço e o seu afável cumprimento e sorriso.
Foi já tardio o início do nosso convívio, posterior à sua extensa e diversa carreira política, mas o suficiente, não só para admirar o Dr. Fernando Amaral que a sociedade e o país se habituou a respeitar, mas também o homem que residia por detrás da figura política nacional. Só mesmo a sábia humildade deste homem grande poderia permitir-se ler e admirar em silêncio alguns dos textos deste humílimo escriba, até ao dia em que fez questão de mo confessar e de me entregar a responsabilidade de rever e editar o seu último livro – “Memórias de uma Toga Antiga” – que acabaria por ser, mais do que um livro, a causa de uma amizade consentida e cultivada pelo respeito e pela admiração. Foram dias e horas de convívio, histórias ouvidas da memória e do entusiasmo com que só o Dr. Fernando Amaral sabia imprimir a esses episódios da sua caminhada. Foram sorrisos partilhados, mas também gargalhadas francas e críticas mordazes à mediocridade que se passeia pelas esquinas da sociedade. Foram refeições a dois, onde a comida era sempre o menos importante, porque o menu principal vinha da voz e da memória, das histórias de vida deste homem que agora parte, sem contudo morrer, porque faz parte do mundo dos poucos que não morrem, apenas mudam de sítio.
Era assim este Homem que subiu as escadas da vida degrau a degrau, apenas com a força da sua personalidade, que fez do recato social, da humildade e da condição de homem livre, a sua forma de conviver com a vida e com os amigos, a quem oferecia os livros que escrevia, porque apenas aos amigos se destinavam, amigos que podemos ser todos, afinal, aliás como fazem ou fizeram os grandes homens de sempre.
E somos nós, esses amigos, todos, que ficámos mais pobres, muito mais pobres e tristes, porque terminou o convívio insubstituível e se fechou para sempre o sorriso da serenidade.
Apesar dos seus oitenta e quatro anos, a sua frescura intelectual permitia-lhe, com um sorriso quase cândido, dizer as coisas mais sérias, aliadas a uma capacidade oratória que, para além de geracional, lhe corria no sangue com a mais-valia de um viver e saber acumulado ao longo de toda uma vida de experiências e conhecimento da comédia humana de Balzac, tantas vezes com a frontalidade e o humor cortante de Voltaire. Tantas vezes, ou quase sempre, de improviso, Fernando Amaral urdia, ali mesmo, onde quer que fosse ou perante quem quer que fosse, a partir de uma frase ou de uma causa, discursos que nos deliciavam pela sua eloquência e pela reflexão a que obrigavam.
Os Homens da sua estatura moral e intelectual não acontecem por acaso, têm um percurso, uma vida vivida e saboreada, ora com sabor a vitória, ora com o sabor acre das derrotas e das desilusões. Mas nada demoveu Fernando Amaral de afirmar a sua personalidade, o seu carácter e o seu sentido apurado de liberdade. Nunca mandou dizer nada por ninguém e nenhum homem o obrigou a calar-se ou a deixar de afirmar a sua razão. Não pelo estatuto de que usufruiu em cada momento, mas pela seu indelével respeito pela verdade e pela liberdade intelectual.
Fernando Monteiro do Amaral nasceu no Lugar do Eirô, na freguesia de Cambres, no concelho de Lamego, a 21 de Dezembro de 1924. Aos 7 anos veio para Lamego com seus pais, quando estes vieram estabelecer uma taberna no lugar do Passeio Alto, onde concluiu o ensino Primário e o liceu. No Porto acabou o curso do Magistério Primário. Foi professor e, enquanto isso, fez a sua licenciatura de Direito na Universidade de Coimbra, tendo sido advogado com reconhecido sucesso até entrar no mundo da política com a chegada da democracia. Foi deputado da Assembleia Constituinte, deputado legislativo, Ministro da Administração Interna e Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro Francisco Pinto Balsemão. Foi eleito Vice-Presidente e Presidente da Assembleia da República entre 1983 e 1987. Foi ainda membro do Conselho de Estado, Vice-Presidente do Conselho da Europa e membro da Comissão dos Direitos do Homem do Conselho da Europa. Foi autarca e Presidente da Assembleia Municipal de Lamego.
Apesar de tudo isto, nunca deixou de ser igual a si próprio, homem de carácter granítico e personalidade, de “antes quebrar que torcer” e de não deixar os is sem pontos, bem carregados, quando era caso disso. A este temperamento e forma de estar associava um enorme sentimento de cidadania, sem rejeitar nunca as suas raízes humildes, o seu lugar, e sobretudo a sua disponibilidade para com todos falar e a todos ajudar, sempre com a tolerância e a racionalidade necessárias. Nutria com o mesmo respeito a sua amizade por políticos do mais elevado coturno, como Mário Soares, seu particular amigo, ou líderes internacionais da sua geração, como pelo mais simples dos cidadãos, para quem tinha sempre uma palavra de apreço e o seu afável cumprimento e sorriso.
Foi já tardio o início do nosso convívio, posterior à sua extensa e diversa carreira política, mas o suficiente, não só para admirar o Dr. Fernando Amaral que a sociedade e o país se habituou a respeitar, mas também o homem que residia por detrás da figura política nacional. Só mesmo a sábia humildade deste homem grande poderia permitir-se ler e admirar em silêncio alguns dos textos deste humílimo escriba, até ao dia em que fez questão de mo confessar e de me entregar a responsabilidade de rever e editar o seu último livro – “Memórias de uma Toga Antiga” – que acabaria por ser, mais do que um livro, a causa de uma amizade consentida e cultivada pelo respeito e pela admiração. Foram dias e horas de convívio, histórias ouvidas da memória e do entusiasmo com que só o Dr. Fernando Amaral sabia imprimir a esses episódios da sua caminhada. Foram sorrisos partilhados, mas também gargalhadas francas e críticas mordazes à mediocridade que se passeia pelas esquinas da sociedade. Foram refeições a dois, onde a comida era sempre o menos importante, porque o menu principal vinha da voz e da memória, das histórias de vida deste homem que agora parte, sem contudo morrer, porque faz parte do mundo dos poucos que não morrem, apenas mudam de sítio.
Era assim este Homem que subiu as escadas da vida degrau a degrau, apenas com a força da sua personalidade, que fez do recato social, da humildade e da condição de homem livre, a sua forma de conviver com a vida e com os amigos, a quem oferecia os livros que escrevia, porque apenas aos amigos se destinavam, amigos que podemos ser todos, afinal, aliás como fazem ou fizeram os grandes homens de sempre.
E somos nós, esses amigos, todos, que ficámos mais pobres, muito mais pobres e tristes, porque terminou o convívio insubstituível e se fechou para sempre o sorriso da serenidade.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
O Melhor do Mundo
Há trinta segundos Cristiano Ronaldo é eleito o melhor jogador do mundo 2008. Finalmente o orgulho português para nos emocionar! Falou com o coração sem grandes adjectivos, com a sua simplicidade, igual a si próprio, mas talvez com a consciência de que estava a dar uma enorme alegria e felicidade a gente simples como a sua família, como ele. Porventura, este jogador madeirense que se estreou há seis anos a jogar no Sporting Clube de Portugal e que em 2008 conquistou o mundo com a camisola do Manchester United, foi hoje um motivo de efémera felicidade, tanto para os que aplaudiram de fato inglês e ferrari à porta, como para aqueles que o viram de cara encostada a uma montra de vidro, aconchegados por um cartão a servir de tecto. Só que.... para estes a felicidade foi muito mais saborosa.
Meu Caro Ronaldo, não te importes se não falas com a fluidez de outros, e pensa que foste causador de orgulho para todos, mesmo todos. Parabéns, meu rapaz.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Palavras de neve
Cai neve ao meio-dia
a vestir os olhares de branco
e as palavras de luz,
há homens e mulheres de mãos dadas
por entre os flocos de algodão doce,
e sorrisos de criança
sobre o branco que os seduz;
por detrás das janelas desenham-se
nos vidros frios os dedos da contemplação,
narizes de menino,
retinas de solidão que seguem
as pegadas tatuadas na ausência
da neve que sobre o chão,
sossegadamente, descansa;
na cidade caiada de neve
as almas aquecem-se de branco quente,
entretanto, os sinais de fumo saem
das chaminés para escrever o amor
sobre a tela espalhada pelas ruas
enquanto as sílabas se escrevem
na cumplicidade da lareira
onde diariamente se desenham
carinhos de mulher.
a vestir os olhares de branco
e as palavras de luz,
há homens e mulheres de mãos dadas
por entre os flocos de algodão doce,
e sorrisos de criança
sobre o branco que os seduz;
por detrás das janelas desenham-se
nos vidros frios os dedos da contemplação,
narizes de menino,
retinas de solidão que seguem
as pegadas tatuadas na ausência
da neve que sobre o chão,
sossegadamente, descansa;
na cidade caiada de neve
as almas aquecem-se de branco quente,
entretanto, os sinais de fumo saem
das chaminés para escrever o amor
sobre a tela espalhada pelas ruas
enquanto as sílabas se escrevem
na cumplicidade da lareira
onde diariamente se desenham
carinhos de mulher.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
domingo, 4 de janeiro de 2009
Hatmavalley
Enquanto as palavras cúmplices saltitam
por entre as partituras abandonadas da surdez,
os quatro pés descalços dançam o bailado
dos versos que saem do olhar enorme
debruado a margaridas com aromas de côco;
como se da planície africana surgisse
a nuvem de poeira levantada pela irrequietude
da poesia, alucinante visão da mulher inventada
por Baudelaire no jardim onde crescem “as flores do mal”.
por entre as partituras abandonadas da surdez,
os quatro pés descalços dançam o bailado
dos versos que saem do olhar enorme
debruado a margaridas com aromas de côco;
como se da planície africana surgisse
a nuvem de poeira levantada pela irrequietude
da poesia, alucinante visão da mulher inventada
por Baudelaire no jardim onde crescem “as flores do mal”.
ausência presente
às vezes as palavras não chegam,
nem mesmo com a ajuda dos pássaros,
para levar a alma a bom porto,
porque há amores que não cabem
nas ruas estreitas dos dias
e só caminham na planície dos olhares;
nem mesmo com a ajuda dos pássaros,
para levar a alma a bom porto,
porque há amores que não cabem
nas ruas estreitas dos dias
e só caminham na planície dos olhares;
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
2008 / 2009
No primeiro dia do ano 2009 há duas coisas inevitáveis – pensar no que poderá vir a ser o ano que se aproxima, e passar em revista o ano que agora termina.
Sentado no conforto da minha mesa de trabalho, procuro imagens que tenham marcado o ano 2008. Duas páginas de notas e trinta minutos de internet depois, a realidade não é animadora e o que mais se pode e deve pedir para 2009 é que seja um ano realmente melhor para todo o mundo. Catástrofes naturais, guerras e fome mundial preenchem 80% das imagens que é possível encontrar dos últimos doze meses.
Homens, mulheres e crianças mortas aos milhares em cenários de guerra como o Iraque, o Afeganistão, a Faixa de Gaza ou a Geórgia invadida pela Rússia;
Mulheres e crianças subnutridas em países como Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia ou Uganda.
A isto podemos juntar ainda a onda de violência interna na Grécia.
Mas a nível internacional vamos destacar como grandes marcas de 2008:
- Em primeiríssimo plano o chamado fenómeno Obama – depois de quase um ano de campanhas os americanos escolhem para a presidência dos Estados Unidos da América o Afro-americano Barack Obama, o primeiro negro a chegar à Casa Branca e a trazer aos americanos e ao mundo uma lufada de esperança no poder da democracia e no futuro de todo o mundo.
- Fidel Castro, o dinossauro sul-americano, abdica do poder que entrega ao seu irmão Raul, porém ninguém acredita que ele deixe de ser a sombra de Cuba.
- Realizam-se os Jogos Olímpicos de Pequim e a China mostra ao mundo o que de melhor e pior tem o seu regime.
- A Espanha sagra-se campeã europeia de futebol, num campeonato em que Portugal mostra a mais pálida imagem da sua capacidade.
Cá por casa e no que ao nosso Portugal diz respeito, a crise financeira e os casos do BPN e do BPP dominam os casos de 2008, mas há mais:
- A proposta avaliação dos professores deixou a classe em polvorosa e realizaram-se as mais mediáticas manifestações de sempre, num braço de ferro entre o governo e os docentes que promete continuar.
- A Assembleia da República aprova um acordo ortográfico demonstrativo da indisfarçável mediocridade e imbecilidade dos deputados da nação que votaram a favor deste diploma vergonhoso.
- Cavaco Silva promulga a polémica nova lei do divórcio.
- Começaram as alegações finais do caso Casa Pia.
- Manuela Ferreira Leite é eleita presidente do PSD.
- O cineasta Manuel de Oliveira completa 100 anos de idade.
- Morre o escritor António Alçada Baptista
- O estatuto político-administrativo dos Açores abre a guerra que se esperava entre o Presidente da República e o governo da maioria PS.
Para 2009 não há grandes previsões e as que há são por si só previsíveis.
- A crise financeira mundial terá a sua maior factura em pagamento este ano, dizem os entendidos e copiam os desentendidos.
- Os cenários de guerra em todo o mundo vão continuar, porém há na mente de todos uma nova esperança chamada Barack Obama.
- Em Portugal é ano de eleições, autárquicas e legislativas, e o Partido Socialista deverá ser o vencedor destas contendas, não sem ter que ultrapassar alguns obstáculos, a saber: conquistar o milhão de votos que pertencem a Manuel Alegre, compensar os votos dos professores que não vai ter, e, mais difícil, anular a guerra que lhe vai mover Cavaco Silva, que está furibundo por ter perdido a contenda dos Açores e porque sabe que o seu partido está entregue a uma bicharada que a senhora idosa é manifestamente incapaz de controlar. Basta ter ouvido com atenção o discurso de Ano Novo de Cavaco Silva aos portugueses para perceber que o verniz estalou e a máscara caiu. Falou da “imagem da política interna no exterior”, da “Estagnação económica dos últimos anos”, disse que “as ilusões pagam-se caro”, falou ainda das “querelas entre os políticos”, sublinhou o desemprego e as dificuldades actuais dos portugueses e disse que as políticas não deverão ser encaradas apenas para 2009, mas também para os anos seguintes, ou seja, para depois das eleições legislativas deste ano – “Acredito num futuro melhor em 2009, mas também nos anos que vêm a seguir” – disse – e só lhe faltou apelar à mudança. O Presidente da República tentou uma forma subtil de atingir Sócrates e o PS, porém, os portugueses não são assim tão estúpidos e se há coisa que é certa é que continuarão a não ser em 2009 nem nos anos seguintes. Ficou a sensação de que uma máscara caiu em plena cena, resta agora saber que futuro nos reserva o que intenções estarão por detrás dessa máscara no ano que agora começa. Uma coisa é certa, em 2009 continuará a ter razão o pensador Voltaire quando escreveu que “-Se não encontrarmos nada agradável, ao menos devemos encontrar algo novo.”
Sentado no conforto da minha mesa de trabalho, procuro imagens que tenham marcado o ano 2008. Duas páginas de notas e trinta minutos de internet depois, a realidade não é animadora e o que mais se pode e deve pedir para 2009 é que seja um ano realmente melhor para todo o mundo. Catástrofes naturais, guerras e fome mundial preenchem 80% das imagens que é possível encontrar dos últimos doze meses.
Homens, mulheres e crianças mortas aos milhares em cenários de guerra como o Iraque, o Afeganistão, a Faixa de Gaza ou a Geórgia invadida pela Rússia;
Mulheres e crianças subnutridas em países como Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia ou Uganda.
A isto podemos juntar ainda a onda de violência interna na Grécia.
Mas a nível internacional vamos destacar como grandes marcas de 2008:
- Em primeiríssimo plano o chamado fenómeno Obama – depois de quase um ano de campanhas os americanos escolhem para a presidência dos Estados Unidos da América o Afro-americano Barack Obama, o primeiro negro a chegar à Casa Branca e a trazer aos americanos e ao mundo uma lufada de esperança no poder da democracia e no futuro de todo o mundo.
- Fidel Castro, o dinossauro sul-americano, abdica do poder que entrega ao seu irmão Raul, porém ninguém acredita que ele deixe de ser a sombra de Cuba.
- Realizam-se os Jogos Olímpicos de Pequim e a China mostra ao mundo o que de melhor e pior tem o seu regime.
- A Espanha sagra-se campeã europeia de futebol, num campeonato em que Portugal mostra a mais pálida imagem da sua capacidade.
Cá por casa e no que ao nosso Portugal diz respeito, a crise financeira e os casos do BPN e do BPP dominam os casos de 2008, mas há mais:
- A proposta avaliação dos professores deixou a classe em polvorosa e realizaram-se as mais mediáticas manifestações de sempre, num braço de ferro entre o governo e os docentes que promete continuar.
- A Assembleia da República aprova um acordo ortográfico demonstrativo da indisfarçável mediocridade e imbecilidade dos deputados da nação que votaram a favor deste diploma vergonhoso.
- Cavaco Silva promulga a polémica nova lei do divórcio.
- Começaram as alegações finais do caso Casa Pia.
- Manuela Ferreira Leite é eleita presidente do PSD.
- O cineasta Manuel de Oliveira completa 100 anos de idade.
- Morre o escritor António Alçada Baptista
- O estatuto político-administrativo dos Açores abre a guerra que se esperava entre o Presidente da República e o governo da maioria PS.
Para 2009 não há grandes previsões e as que há são por si só previsíveis.
- A crise financeira mundial terá a sua maior factura em pagamento este ano, dizem os entendidos e copiam os desentendidos.
- Os cenários de guerra em todo o mundo vão continuar, porém há na mente de todos uma nova esperança chamada Barack Obama.
- Em Portugal é ano de eleições, autárquicas e legislativas, e o Partido Socialista deverá ser o vencedor destas contendas, não sem ter que ultrapassar alguns obstáculos, a saber: conquistar o milhão de votos que pertencem a Manuel Alegre, compensar os votos dos professores que não vai ter, e, mais difícil, anular a guerra que lhe vai mover Cavaco Silva, que está furibundo por ter perdido a contenda dos Açores e porque sabe que o seu partido está entregue a uma bicharada que a senhora idosa é manifestamente incapaz de controlar. Basta ter ouvido com atenção o discurso de Ano Novo de Cavaco Silva aos portugueses para perceber que o verniz estalou e a máscara caiu. Falou da “imagem da política interna no exterior”, da “Estagnação económica dos últimos anos”, disse que “as ilusões pagam-se caro”, falou ainda das “querelas entre os políticos”, sublinhou o desemprego e as dificuldades actuais dos portugueses e disse que as políticas não deverão ser encaradas apenas para 2009, mas também para os anos seguintes, ou seja, para depois das eleições legislativas deste ano – “Acredito num futuro melhor em 2009, mas também nos anos que vêm a seguir” – disse – e só lhe faltou apelar à mudança. O Presidente da República tentou uma forma subtil de atingir Sócrates e o PS, porém, os portugueses não são assim tão estúpidos e se há coisa que é certa é que continuarão a não ser em 2009 nem nos anos seguintes. Ficou a sensação de que uma máscara caiu em plena cena, resta agora saber que futuro nos reserva o que intenções estarão por detrás dessa máscara no ano que agora começa. Uma coisa é certa, em 2009 continuará a ter razão o pensador Voltaire quando escreveu que “-Se não encontrarmos nada agradável, ao menos devemos encontrar algo novo.”
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